16 de mai. de 2010

Outono



Ele foi chegando de mansinho, suavemente, como quem quase não quer se fazer sentir. Bateu à minha janela nas madrugadas serenas de Abril, docemente chamando, como namorado à luz do luar...Ao final das tardes amenas, os passarinhos começaram a acomodar-se mais cedo nos ninhos, temerosos de uma noite que se adiantava... Andorinhas barulhentas, pressentindo que era chegada a hora da partida, começaram a reunir-se às dezenas nos fios de luz da cidade, numa despedida do verão que se esvaía lentamente. Partiam aos bandos, em busca de ares mais cálidos, numa viagem em direção ao norte. E então chegou Maio, e com ele as tardes foram se tornando mais suaves, as manhãs mais frias, o vento cirandando as árvores, insistentemente despenteando o cabelo das moças nas calçadas, balançando as roupas nos varais, levando folhas ressecadas pelas praças da cidade. E na manhã de um domingo frio, ele finalmente apresentou sua face, o céu vestiu-se de cinza, calaram-se os pardais nos ninhos. O outono chegou!
Há alguns distraídos, ou talvez estejam ocupados demais com a vida, que costumam afirmar que o Brasil não possui as estações do ano definidas. Que enganados estão! A estes eu aconselho: acalmem o coração, serenem seus pensamentos agitados e atentem para a natureza a sua volta. A vida não pode ser apenas esta correria insana, que entorpece os sentidos e brutaliza o Homem, incapaz sequer de perceber o delicado mover das estações estabelecidas pelo Criador . Ouçam os bichos do campo, as aves do céu, atentem para o movimento das nuvens e a direção do vento.
A natureza fala! Nossos ouvidos não podem estar abertos apenas para o barulho do mundo civilizado e nossos olhos precisam enxergar além das trevas produzidas pela humanidade. Se o Homem se calar, silenciar o coração e a mente, perceberá o ciclo da natureza se completando. Preste atenção: já disseram adeus as andorinhas, o sol vai demarcando outras sombras pelo chão, já não se ouvem mais as vozes barulhentas dos pardais e das maritacas. Só o bem-te-vi ainda insiste em seu grito solitário sobre as árvores. As noites e as manhãs encolhem-se frias e as tardes vestem-se de nuvens arroxeadas que sobem do sul. As flores, como convidados de uma festa que chega ao fim, aos poucos, vão delicadamente se retirando; as folhas, se ressecando e mansamente caindo pelo chão e as vaidosas árvores do sertão vão erguendo seus galhos desnudos para o ar translúcido de Maio.
O outono aqui pelo interior é assim, delicado, silencioso, manso...
Os poetas conseguem vê-lo e ouvi-lo. E há ainda uns outros, poucos que são , homens e mulheres que carregam dentro de si sentimentos antigos, um resto do Éden, que conseguem ainda ouvir a voz de Deus chamando no vento...

12 de mai. de 2010

Poeminha do contra


"Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho
Eles passarão.
Eu, passarinho!"
Do grande poeta Mário Quintana, com toda sua sabedoria de vida. Como diria minha avó:para um bom entendedor, meia palavra basta. E como eu digo: uma imagem vale por mil palavras...