22 de dez. de 2010

Tia Ida

Havia uma rosa e uma margarida entre tantas outras flores.
A Rosa nao conheci, pois partiu antes de eu nascer, numa primavera distante...
A Margarida coloriu nosso jardim até ontem de manhã.
E na tarde ensolarada e cálida,
nuvens brancas num céu azul,
como margaridas num campo,
nós a levamos por entre as aléias serenas de um jardim antigo,
onde já plantamos tantas outras flores...

Tia Margarida partiu...
Se foi como viveu toda sua vida:
de forma simples, serena, discreta.
Sem alarde, sem chamar atenção,
cercada de alguns anjos sem asas que a protegiam.
Tia Margarida foi a tia que todo mundo queria ter,
todos os meninos e meninas da minha infância queriam uma flor como aquela...
Seu ventre não lhe concedeu filhos,
mas o seu coração generoso,
transbordando de um afeto sereno,
acolheu os sobrinhos, como se fossem seus.
Todos nós, primos e primas, éramos como abelhas no seu jardim
todos fomos um pouco seus filhos,
crianças que ela cultivou debaixo de sua parreira de uvas brancas e roxas,
num quintal encantado onde não havia espaço para tristezas ou dor.
À sombra daquela videira
nós brincamos,
brigamos,
cirandamos,
sorrimos,
choramos,
crescemos
e amadurecemos
como as uvas doces que chegavam em dezembro...
O tio, seu companheiro de toda uma vida,
Antônio de nascimento, Tonin, de carinho,
partiu muitos anos antes e deve tê-la aguardado no céu desde então...

Nós a levamos ontem, num passo lento, silencioso,
Num dolorido caminhar entre as árvores,
temerosos de que afinal a hora chegara...
Não mais haveria sua voz,
sua presença confortadora,
sua sabedoria,
seu café na cozinha simples,
a conversa nas tardes mornas,
as histórias de tempos já idos e longínqüos que só ela sabia.
Não mais haverá sua casa para nos receber,
o rosto emoldurado pela grande janela da cozinha,
seu macarrão de domingo,
seu sotaque italiano,
seu humor fino que desafiava a morte.

Não mais haverá.
Não mais Margarida.
Tia Ida...

Descansa agora entre as flores do céu, que ela merece,
trabalhou toda vida.
Tia Ida,
Tão triste a sua partida...
Tão órfãos nos sentimos sem a nossa Margarida...

4 de dez. de 2010

Escócia:Highlands com castelos(Parte 2)-Para sempre na memória

Saímos cedo de Inverness, a manhã gelada de Outubro convidava a ficar mais na cama, mas o coração ansiava por conhecer as Highlands, ver seus mistérios, sentir a história daquelas terras distantes. Pegamos o carro debaixo de uma garoa fininha e seguimos rumo a oeste animados com o dia que se abria a nossa frente. Pegamos a A 82 sentido sudoeste, pois nossa intenção era alcançar a ilha de Skye. No outono, as estradas escocesas são encantadoras, apesar da chuvinha insistente. Lagos cristalinos se sucedem, emoldurados de montanhas e extensos pinheirais. Mas a lendária criatura, o famoso Monstro de Loch Ness, infelizmente não deu as caras. Aliás, vale lembrar que por aqui, conforme publiquei no post anterior, a língua gaélica ainda tem muita força e "Loch" é exatamente isso que você deduziu, Lago. O Ness se estende no sentido norte-sul e vai margeando a A82. Apesar de muito profundo, é um pouco estreito. Pequenos vilarejos vão se sucedendo e observamos que o feno já estava enrolado nos campos, para alimentar o gado no inverno. Lagos, campos, montanhas, folhas douradas caindo ao vento... a Escócia se abria à nossa frente com a toda sua magia.


A primeira parada, of course, foi ao lado do Ness. Colocar a mão em sua água cristalina, caminhar nas suas margens, respirar o ar gelado da manhã...não há nada no mundo que pague esta experiência...seguimos em frente e paramos um pouco adiante para ver parte do Caledonian Channel, canal que interliga quatro lagos entre Inverness e Fort William. De lá seguimos viagem, sempre rumo a oeste,impressionados com os vários castelos à beira da estrada, muitos em ruínas, mas não podíamos deixar de visitar o Urquart Castle, às margens do Lago Ness, próximo à vila de Drumnadrochit. A vista é simplesmente espetacular, as ruínas do castelo datam do século sexto e você se sente como se estivesse em plena idade média, até o ar parece mudar...Tive a impressão de que um cavaleiro sairia a qualquer momento de entre as ruínas,elmo na cabeça, olhar perdido como quem vem de muito longe...
A velha Escócia é mesmo surpreendente...

( continua...)

20 de nov. de 2010

Escócia:Inverness(Parte 1)-Para sempre na memória

Era outono na Inglaterra, final de outubro e o frio já havia há muito se instalado. Resolvemos, eu e dois amigos, que iríamos à Escócia. King's Cross Station, bilhetes na mão,uma mochila repleta de agasalhos, um trem na manhã fria e a nublada Londres foi ficando para trás.Campos, ovelhas, montes, pinheirais iam se sucedendo num ritmo agradável pela janela do trem. Finalmente Edinburgh aparece a nossa frente, cidade encantada com suas torres medievais e aquele castelo imponente que domina tudo do alto do rochedo. Mas Edinburh é tão maravilhosamente mágica que merece um texto à parte. De lá alugamos um carro, um Peugeot vermelho que o Alexandre se atreveu a dirigir pelas estradas da Escócia. Uma luta no início: direção do lado direito e ocupação da faixa do lado esquerdo da estrada- a tal da mão inglesa. Entra errado aqui, sai na contra mão ali, roda e volta no mesmo lugar algumas vezes e, alguns sustos depois, finalmente saímos da cidade em direção ao Norte. Destino:Inverness. Distância: cerca de 180 quilômetros.
Seguimos pela M90 em direção a Perth, meio que perdidos com tanta beleza dos campos escoceses. Pelo meio da tarde, a fome batendo forte,próximo a Dunfermline avistamos à margem da rodovia uma fazenda, em cuja placa estava escrito: típica comida caseira escocesa. Entrar? Claro, para isso alugamos um carro, para ficarmos livres e visitarmos o que bem entendêssemos, parar ou seguir quando quiséssemos. Foi um almoço inesquecível! Acho que comi o melhor salmão da minha vida, macio, muito bem temperado, cheiro de comida de avó...
De volta ao carro, seguimos pela A9, margeada de lagos e castelos antigos, muitos deles em ruínas,os olhos se abrindo sempre a cada nova visão da antiga e bela terra dos celtas. Aquela era a segunda vez que eu visitava a Escócia e mesmo assim ela continuava me surpreendendo a cada curva da estrada. Uma sensação estranha foi tomando conta de mim: parecia estar me movendo num sonho, que todo aquele cenário não era real.
Finalmente,ao entardecer- e no outono o sol se põe muito cedo na Escócia- chegamos a Inverness, a capital das Highlands escocesas. "Highlands" significam "terras altas", lugar repleto de lendas e tradições antigas. Assim que chegamos, procuramos um hotel para nos acomodar. Um banho quente, uma roupa limpa, um jantar regado a vinho tinto e uma noite de sono nos deixaram novos e assim prontos para Inverness.
A cidade é muito linda, fica situada à margem do rio Ness, repleta de construções típicas de pedras, como a cadedral de Saint Andrew, nos remetendo a uma época muito diferente da nossa. As ruas são tranqüilas, especialmente a High Street, somente para pedestres. Os habitantes de Inverness descendem em grande parte dos antigos celtas que falavam gaélico, por isso muitas placas ainda apresentam o nome dos lugares em inglês e em gaélico. Apesar do frio intenso, que andava na casa dos zero graus, Inverness foi uma esperiência incrível, a ser repetida muitas vezes, pois é uma cidade única. À luz do luar ou banhada de sol é um lugar que ficará para sempre na minha memória...

13 de nov. de 2010

Além do horizonte...viajante sem fronteira

Cada canto do mundo tem seu encanto,
detalhes a serem descobertos pelo viajante.
Sons, cores, odores, sabores...
Quem viaja, para perto ou para longe,
tem o privilégio de encontrar o pote de ouro
no final do arco-íris.
Quer vir comigo nesta emoção?

2 de out. de 2010

Sobre feras e homens




Os homens vieram com seu ódio e seu poder,
Atearam fogo, derramaram seu veneno letal sobre os campos inocentes.
Morreram bichos e plantas, pássaros e flores, calcinados pela ganância humana.
Maltratadas e assustadas, as indefesas aves das matas se refugiaram na agitação das cidades,
Inquietas, perplexas, se indagando sobre a fera terrível que levantara a mão sobre seu lar.
Uma fumaça mortífera subiu do horizonte, levantando suas asas tétricas no azul do céu que escureceu.
O dia se fez noite.
A luz se fez trevas.
E o ódio cobriu de cinza e negro os campos onde deveria reinar a luz.
Cobriu de palhas negras as cidades.
Cobriu de negro o coração dos bons, enlutados pela dor da natureza...
Tristeza, desesperança, morte...
Mas enquanto os homens se perdiam perplexos em seus porquês
A primavera- tão esperada!- veio repentina com sua força poderosa
Derramando sobre os campos feridos sua chuva benfazeja
Ressuscitando a vida e renovando a esperança.
A fera homem semeou ódio
A mão divina veio derramando a cura com suas águas abundantes
O cheiro vivo do verde substituindo o odor maléfico das queimadas.
E a besta fera humana se curvou ante a poderosa mão do Criador
Porque finalmente Setembro chegou...
Porque enquanto houver um resto de amor no coração de uns poucos homens
Setembro sempre virá...

19 de ago. de 2010

Quando setembro vier

Hoje o gato Poppy ficou assim, docemente pensativo,
como que saudoso, sobre o muro do jardim.
Acho que sonhava acordado, como que sentindo o cheiro das primeiras chuvas que setembro há de trazer.
Pressentia que há um ciclo se fechando,
e que há mãos divinas que se preparam para acordar a primavera delicadamente adormecida...
Já sentia o cheiro de seu pólen vindo distante no ar...
Será que imaginava canários amarelos,
ou bandos de pardais travessos pulando sobre os muros dos vizinhos?
(Os brancos bigodes sedosos como que que se curvando num sorriso maroto...)
Ou seriam saudades das borboletas endoidecidas de sol?
Ficou assim, extasiado,
soberbo ao sol da manhã azul e fria de agosto,
solenemente aguardando, como um noivo no altar,
sua amada coroada de flores,
vislumbrando os dias encantados que viverá
Quando setembro vier...

14 de ago. de 2010

Meu pai


Quando eu era criança, meu pai era meu herói. Para mim ele era o mais sábio dos homens, o mais inteligente, o mais forte, o mais esperto...Ao chegar em casa, no final da tarde ele sempre me trazia um doce ( doces antigos, maria-mole, gelatina colorida, cocada...) e me contava longas histórias de patativas encantadas e cotovias dos campos. Ele era tudo, o melhor homem do mundo, tinha sempre razão, eu o sentia assim e era completamente feliz!
Já na adolescência, descobrindo o mundo, comecei a achar que ele era um pouco chato em algumas coisas, parecia meio antiquado, não acompanhava as mudanças. Era inteligente e digno, de muito caráter, mas bem que podia ser menos careta, eu pensava. A gente se desentendia algumas vezes e eu ficava chateada. Mas sua presença era fortalecedora, a vida era azul e eu ainda era feliz!
No início da minha juventude passei a achar meu pai antigo, tão antigo que já nem valia a pena trocar mais do que meia dúzia de palavras com ele. Eu, sim, tinha toda a razão, conhecia as coisas da vida, vivia num mundo moderno do qual ele não participava, estava velho, suas ideias eram antiquadas, não tinha conhecimento da realidade. Eu já não via mais o herói, mas apenas um homem envergado pelos anos, de ombros caídos e cabelos embranquecidos. A vida parecia tê-lo vencido. Que ele podia saber dos desafios da época moderna? O tempo passava, os problemas se amontoavam e não havia tempo para pensar se eu era ou não feliz.
Meu pai partiu. Cedo. Cedo demais, agora eu sei. Sua ida se fizera anunciar, mas eu estava tão absorvida pela existência que não entendi a mensagem enviada. Afinal, eu estava na luta para encontrar a tal felicidade...
A vida adulta chegou e junto com ela uns fios de cabelos brancos e uma carga enorme de responsabilidades. O mundo já não tinha mais o apelo colorido e encantado da adolescência. E eu comecei lentamente a perceber que meu velho pai provavelmente tinha razão em algumas coisas. Talvez se ainda estivesse aqui, eu pensava, ele pudesse me aconselhar em algumas coisas. Talvez ele pudesse me dar um ou dois palpites sobre a felicidade...
Hoje, quando olho para frente, vejo um caminho indefinido. Há perguntas sem respostas e algumas tristezas escondidas por trás das árvores. Nem sempre há sol na minha estrada, nem sempre a chuva molha os campos. Mas ao olhar para trás, procuro os caminhos por quais passei, e lá no início, vejo meu pai herói, acenando para mim, chegando sujo do trabalho, com as mãos cheias de doces coloridos e um sorriso cansado nos lábios. Meu pai sábio, meu pai bom, meu pai digno. E agora eu sei que ele sempre teve razão, ele sempre esteve certo, ele sempre soube a verdade. E com certeza ele poderia me mostrar onde mora a felicidade...

31 de jul. de 2010

1billionhungry.org

1billionhungry.org

Um bilhão de pessoas ao redor do mundo vive com fome crônica. Isso nao significa ter fome uma vez ao dia, ou fome entre as refeições, ou de vez em quando. Isso significa viver uma vida de miséria, ver os filhos, aos poucos, morrerem de inanição, isso significa viver sem esperança... Se você, como eu, fica indignado com isso, se você se sente incomodado com a dor e o sofrimento destes seres humanos, entre no site acima, assine a petição e vamos juntos, pressionar os poderosos, reivindicar ação para acabar com a fome no mundo.

19 de jul. de 2010

Coisas que a teoria da evolução não explica



Uma tigresa alimentando filhotes de porca e uma porca alimentando filhotes de tigre...
Um leopardo leva um filhote de babuíno para o alto de uma árvore, salvando-o das hienas que esperavam por se alimentar dele...e pensar que leopardos se alimentam de babuínos...
Pode parecer incrível, mas este é o projeto original de Deus:paz e harmonia em TODA sua criação, até mesmo entre os animais. E certamente voltará a ser, conforme a suprema vontade do Criador:
"E morará o lobo com o cordeiro e o leopardo com o cabrito se deitará e o bezerro e o filho do leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide e a desmamada colocará sua mão na cova da serpente. Não se fará mal, nem dano algum em todo meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar."( Isaías 11:6-9)

16 de mai. de 2010

Outono



Ele foi chegando de mansinho, suavemente, como quem quase não quer se fazer sentir. Bateu à minha janela nas madrugadas serenas de Abril, docemente chamando, como namorado à luz do luar...Ao final das tardes amenas, os passarinhos começaram a acomodar-se mais cedo nos ninhos, temerosos de uma noite que se adiantava... Andorinhas barulhentas, pressentindo que era chegada a hora da partida, começaram a reunir-se às dezenas nos fios de luz da cidade, numa despedida do verão que se esvaía lentamente. Partiam aos bandos, em busca de ares mais cálidos, numa viagem em direção ao norte. E então chegou Maio, e com ele as tardes foram se tornando mais suaves, as manhãs mais frias, o vento cirandando as árvores, insistentemente despenteando o cabelo das moças nas calçadas, balançando as roupas nos varais, levando folhas ressecadas pelas praças da cidade. E na manhã de um domingo frio, ele finalmente apresentou sua face, o céu vestiu-se de cinza, calaram-se os pardais nos ninhos. O outono chegou!
Há alguns distraídos, ou talvez estejam ocupados demais com a vida, que costumam afirmar que o Brasil não possui as estações do ano definidas. Que enganados estão! A estes eu aconselho: acalmem o coração, serenem seus pensamentos agitados e atentem para a natureza a sua volta. A vida não pode ser apenas esta correria insana, que entorpece os sentidos e brutaliza o Homem, incapaz sequer de perceber o delicado mover das estações estabelecidas pelo Criador . Ouçam os bichos do campo, as aves do céu, atentem para o movimento das nuvens e a direção do vento.
A natureza fala! Nossos ouvidos não podem estar abertos apenas para o barulho do mundo civilizado e nossos olhos precisam enxergar além das trevas produzidas pela humanidade. Se o Homem se calar, silenciar o coração e a mente, perceberá o ciclo da natureza se completando. Preste atenção: já disseram adeus as andorinhas, o sol vai demarcando outras sombras pelo chão, já não se ouvem mais as vozes barulhentas dos pardais e das maritacas. Só o bem-te-vi ainda insiste em seu grito solitário sobre as árvores. As noites e as manhãs encolhem-se frias e as tardes vestem-se de nuvens arroxeadas que sobem do sul. As flores, como convidados de uma festa que chega ao fim, aos poucos, vão delicadamente se retirando; as folhas, se ressecando e mansamente caindo pelo chão e as vaidosas árvores do sertão vão erguendo seus galhos desnudos para o ar translúcido de Maio.
O outono aqui pelo interior é assim, delicado, silencioso, manso...
Os poetas conseguem vê-lo e ouvi-lo. E há ainda uns outros, poucos que são , homens e mulheres que carregam dentro de si sentimentos antigos, um resto do Éden, que conseguem ainda ouvir a voz de Deus chamando no vento...

12 de mai. de 2010

Poeminha do contra


"Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho
Eles passarão.
Eu, passarinho!"
Do grande poeta Mário Quintana, com toda sua sabedoria de vida. Como diria minha avó:para um bom entendedor, meia palavra basta. E como eu digo: uma imagem vale por mil palavras...

23 de abr. de 2010

Os amigos


Deus visitou-me esta semana de forma inusitada. Encontrei dois velhos amigos. Um me chegou assim, com seu jeito alegre e encheu minha casa de novidades. Veio de longe trazendo antiga amizade, num grande abraço de urso. Com ele a lembrança de muitos caminhos percorridos e um vento bom, carregado do cheiro do sol e das estradas do sertão. Compartilhamos juntos nossa mesa e nossa alegria, numa noite grande, com cara de vida. Era abril lá fora, mas dentro de nossa sala poderia ser manhã de Natal. O outro encontrei ao acaso, menino disfarçado de adulto, trazendo com ele o cheiro do deserto árido que atravessou, as marcas das areias na alma. Embora trouxesse um olhar cansado, de quem cruzou tantas noites escuras, o sorriso era o da fênix renascida, vitoriosa ante a face decepcionada da morte. Cada amigo me trouxe um pouco de si, de sua presença restauradora, da força vivificante de sua amizade. E cada um deles, a seu modo, mostrava no rosto a face amorosa de Deus...

12 de abr. de 2010

"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira." ( Cecília Meireles )

2 de abr. de 2010

Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem...


A sexta-feira santa para mim é momento de recolhimento e reflexão. Penso em Cristo, tão doce e humilde, tão duramente castigado por nossos pecados, moído pelas transgressões humanas, no alto do Gólgota, no auge de seu sofrimento, ainda intercedendo pelos Homens. Fico imaginando a força descomunal desse Homem-Deus, que poderia num momento, com todo o poder que dEle emanava, ter descido da cruz ali mesmo e destruído todos os seus inimigos.Por que não o fez? Por obediência a seu Pai ( "Pai, se for possível, passa de mim este cálice...") e por amor aos Homens, pecadores que somos desde o início, separados que éramos da graça do Pai.
Infelizmente, até hoje, poucos são que compreendem a grandeza deste momento, que Cristo renunciou a toda sua glória e majestade que tinha junto de Deus, para tornar-se Homem como nós, para nos compreender, sofrer nossas dores, nossas angústias, nossos medos. Ele não precisava disso, mas o fez por nós. E o que fazem os homens neste dia?Ao menos neste dia, deveríamos meditar nesse grande amor, e agradecer em adoração pelo que Ele fez.Mas todos estão muito ocupados com suas próprias vidas. É preciso ocupar o tempo, usufruir de cada minuto que o feriado proporciona. Uns vão trabalhar, que "tempo é dinheiro", dizem. Com isto, abrem-se mercados e lojas, praças de alimentação e lazer. Outros vão à busca de entretenimento, descem enlouquecidos às praias, lotam cinemas e teatros...Há alguns, principalmente os mais jovens, que nem sequer sabem o significado desta data, aumentam o som do carro enquanto curtem o churrasco com os amigos, entorpecidos de cerveja e música de qualidade duvidosa. Nada contra o trabalho, lazer, música... Todos precisamos disso. Mas hoje, ao menos hoje, acredito que as pessoas deveriam parar um pouco a correria insana que é nossa vida e refletir sobre o significado desta data. Não é preciso extremos como no tempo de meus avós, em que as pessoas sequer podiam cuidar de suas casas, que o rádio só tocava música instrumental, que as crianças eram ensinadas a não falar alto, que comer carne era proibido. Não é isto que Deus quer de nós. Mas um pouco de reflexão é necessário, um pouco de reverência, de quietude, de nos esvaziarmos de nós mesmos e nos enchermos de Deus. É tempo de voltarmos para nós mesmos e fazer uma avaliação de nossa vida, para onde estamos indo...
Enquanto isso, Cristo continua lá, do alto de seu calvário, contemplando há dois mil anos a Humanidade e murmurando: Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem...

24 de mar. de 2010

Para não esquecer...

"A vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui"( Lucas 12:15)

22 de mar. de 2010

Poesia

"Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade, pequena

Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
Como é azul o oceano
E a lagoa, serena


Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena


Sei que dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Mesmo que o pão seja caro
E a liberdade, pequena."

Ferreira Gullar

21 de mar. de 2010

Ayrton para sempre!


"Ele (Deus) é o dono de tudo. Devo a Ele a oportunidade que tive de chegar onde cheguei"( Ayrton Senna da Silva )


Se não tivesse nos deixado tão precocemente, com apenas 34 anos de vida, Ayrton Senna faria hoje 50 anos. Uma pena a nova geração conhecer tão pouco sobre o homem Ayrton Senna. Quem como eu, teve o privilégio de acompanhá-lo em sua trajetória profissional sabe do que estou falando. Lembro-me da vitória em seu primeiro campeonato na fórmula 1, era final de outubro de 1988, estávamos num acampamento na região serrana de Franca, um grupo de adolescentes e jovens da Igreja Metodista, um local lindo, com uma vista deslumbrante. Como não havia televisão no meio do mato ficamos sem saber o resultado da corrida, que poderia dar a Senna o campeonato. Alguém do grupo tinha ido à cidade na noite de sábado, dormiu por lá e retornou no amanhecer do domingo. Acordou o acampamento inteiro com um grito de vitória que ecoou pelos ares: "Acorda moçada, que o Senna é campeão do mundo!" O tempo passou e nos acostumamos com suas vitórias, em compartilhar conosco sua alegria e o orgulho em ser brasileiro.Grande piloto, o melhor e mais completo que já vi, mas acima de tudo um gigante em caráter e dignidade. Deixou plantada uma semente de solidariedade e amor pelo ser humano através de gestos humanitários pelos mais carentes, semente que se perpetua até hoje através das obras do Instituto que leva orgulhosamente seu nome. Num mundo onde os ídolos são construídos pela mídia, num mundo de BBBs supérfluos e vazios, num mundo em que a estética vale mais do que a ética, em que milhões morrem sem ter ao menos do que se alimentar, lembrar de Senna é um refrigério. Por isso Ayrton é eterno. Porque Amor e Caráter são valores eternos. Parabéns Ayrton, hoje com certeza tem festa no céu! Com carinho, do Brasil!

18 de mar. de 2010

Fátima

Hoje seria aniversário da amiga Fátima. Durante muitos anos, nos acostumamos a celebrar esta data com uma festança depois da aula. Saíamos da escola por volta das onze horas e a alegria ia até de madrugada. Cada um de nós, amigos e colegas, fazia questão de estar lá. Porque a Fátima era mais do que amiga: era companheira, irmã de todas as horas. Impossível esquecer a alegria contagiante de sua gargalhada, seu entusiasmo em tudo que fazia e o bom humor constante, no inverno ou no verão.Lembrar da Fátima é lembrar da vida. Vida que ela soube aproveitar e viver.Por isso nada de tristeza hoje, porque amizade verdadeira não morre jamais.Num gesto de suadade, sim, mas de muita alegria também, um brinde à Fátima! Um brinde à vida!

14 de mar. de 2010

Respeito às diferenças


O anjinho da foto aí do lado tem um ano de vida e atende pelo nome de Sasha, não a Sasha da Xuxa, mas a Sasha Bolacha, como gosto de chamá-la.É uma gata menina. Linda, fofa, mansinha, educadíssima, mas....lá vem o "mas"...temos um quintal em casa. Fato notável para quem vive no século 21, onde as casas e suas donas se orgulham de só ter cimento ( nem um pedacinho de terra que é pra não sujar e não ter que lavar, dizem as donas). Porém nós temos um enorme quintal, cheio de ipês amarelos,um pé de murta branca que vive nos agraciando com o perfume doce de suas flores, dúzias de maria-sem-vergonha,onze-horas, uma tuia menina que continua crescendo,uma roseira vermelha,lirios brancos, muitos pingo-de-ouro,numa enorme confusão de cores e aromas, tudo insistentemente visitado por pardais assanhados, bem-te-vis gritões,beija-flores esvoaçantes, borboletas coloridas, abelhas e abelhinhas de todas as espécies e agora...um casal de pombos!Lindinhos,um cinza, um branco. E um filhote que caiu do ninho e os pais alimentam no chão.E a dona Sasha, que está absolutamente apaixonada pelo pombinho e faz marcação cerrada sobre ele o dia todo. O nome que mais se ouve por aqui é o dela: Sasha deixa o pombinho, Sasha sai saí, Sasha não faça isso, Sasha não faça aquilo...Haja disposição para acompanhar tal pestinha.Mas não foi preciso muito, aos poucos ela foi aprendendo a respeitar os pombos e vai convivendo pacificamente com eles, curiosa, fascinada pela diferença.Parece estar decidida a fazer um amigo de asas. Diferente dos Homens, que vão se matando, se destruindo, exatamente porque são diferentes.Temos muito a aprender com os animais...

13 de mar. de 2010

Quando setembro vier


Quando entrar setembro

E as boas novas andar nos campos

Quero ver nascer o perdao

Onde a gente plantou

Juntos outra vez

Já sonhamos juntos

Semeando as canções no vento

Mesmo assim nao custa inventar

Uma nova canço que venha nos trazer

Sol de primavera

Abre as janelas do meu peito

A lição sabemos de cor

Só nos resta aprender

Quero ver crescer nossa voz

No que falta sonhar

Já choramos muito

Muitos se perderam no caminho

Mesmos assim nao custa inventar

Uma nova canção

Que venha nos trazer

Sol de primavera

Abre as janelas do meu peito

A lição sabemos de cor

Só nos resta aprender...