14 de ago. de 2010

Meu pai


Quando eu era criança, meu pai era meu herói. Para mim ele era o mais sábio dos homens, o mais inteligente, o mais forte, o mais esperto...Ao chegar em casa, no final da tarde ele sempre me trazia um doce ( doces antigos, maria-mole, gelatina colorida, cocada...) e me contava longas histórias de patativas encantadas e cotovias dos campos. Ele era tudo, o melhor homem do mundo, tinha sempre razão, eu o sentia assim e era completamente feliz!
Já na adolescência, descobrindo o mundo, comecei a achar que ele era um pouco chato em algumas coisas, parecia meio antiquado, não acompanhava as mudanças. Era inteligente e digno, de muito caráter, mas bem que podia ser menos careta, eu pensava. A gente se desentendia algumas vezes e eu ficava chateada. Mas sua presença era fortalecedora, a vida era azul e eu ainda era feliz!
No início da minha juventude passei a achar meu pai antigo, tão antigo que já nem valia a pena trocar mais do que meia dúzia de palavras com ele. Eu, sim, tinha toda a razão, conhecia as coisas da vida, vivia num mundo moderno do qual ele não participava, estava velho, suas ideias eram antiquadas, não tinha conhecimento da realidade. Eu já não via mais o herói, mas apenas um homem envergado pelos anos, de ombros caídos e cabelos embranquecidos. A vida parecia tê-lo vencido. Que ele podia saber dos desafios da época moderna? O tempo passava, os problemas se amontoavam e não havia tempo para pensar se eu era ou não feliz.
Meu pai partiu. Cedo. Cedo demais, agora eu sei. Sua ida se fizera anunciar, mas eu estava tão absorvida pela existência que não entendi a mensagem enviada. Afinal, eu estava na luta para encontrar a tal felicidade...
A vida adulta chegou e junto com ela uns fios de cabelos brancos e uma carga enorme de responsabilidades. O mundo já não tinha mais o apelo colorido e encantado da adolescência. E eu comecei lentamente a perceber que meu velho pai provavelmente tinha razão em algumas coisas. Talvez se ainda estivesse aqui, eu pensava, ele pudesse me aconselhar em algumas coisas. Talvez ele pudesse me dar um ou dois palpites sobre a felicidade...
Hoje, quando olho para frente, vejo um caminho indefinido. Há perguntas sem respostas e algumas tristezas escondidas por trás das árvores. Nem sempre há sol na minha estrada, nem sempre a chuva molha os campos. Mas ao olhar para trás, procuro os caminhos por quais passei, e lá no início, vejo meu pai herói, acenando para mim, chegando sujo do trabalho, com as mãos cheias de doces coloridos e um sorriso cansado nos lábios. Meu pai sábio, meu pai bom, meu pai digno. E agora eu sei que ele sempre teve razão, ele sempre esteve certo, ele sempre soube a verdade. E com certeza ele poderia me mostrar onde mora a felicidade...

4 comentários:

  1. Lindos os seus novos textos postados, irmã Edna! Que homenagem oportuna pelo dias dos pais! Realmente, a felicidade nunca está longe e ela certamente envolvia as suas emoções ao receber os doces coloridos. Também tive experiências muito singelas vividas com meu pai e elas eram pura felicidade. Mas, querida irmã em Cristo, o Pai celestial certamente continua te abençoando com outros tipos de doces: os amigos, os bichos de estimação, a sensibilidade para pressentir a chegada da primavera... Desejo-lhe muita felicidade.

    Deus te abençõe! Abraço. Cidinha.

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  2. LIndissimo texto Edna!!!
    Me fez emocionada me lembrar tbm do meu pai!!
    E como eles tinham razão!!!!
    bjoooo.

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  3. Lindo...
    Hoje acordei pensando no meu pai e como amo ele.
    Saudades imensas sempre.

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  4. Obrigada pelo comentário tão delicado!
    Ame sempre seu pai!
    Saudades muitas de você também.
    Bj

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