22 de dez. de 2010

Tia Ida

Havia uma rosa e uma margarida entre tantas outras flores.
A Rosa nao conheci, pois partiu antes de eu nascer, numa primavera distante...
A Margarida coloriu nosso jardim até ontem de manhã.
E na tarde ensolarada e cálida,
nuvens brancas num céu azul,
como margaridas num campo,
nós a levamos por entre as aléias serenas de um jardim antigo,
onde já plantamos tantas outras flores...

Tia Margarida partiu...
Se foi como viveu toda sua vida:
de forma simples, serena, discreta.
Sem alarde, sem chamar atenção,
cercada de alguns anjos sem asas que a protegiam.
Tia Margarida foi a tia que todo mundo queria ter,
todos os meninos e meninas da minha infância queriam uma flor como aquela...
Seu ventre não lhe concedeu filhos,
mas o seu coração generoso,
transbordando de um afeto sereno,
acolheu os sobrinhos, como se fossem seus.
Todos nós, primos e primas, éramos como abelhas no seu jardim
todos fomos um pouco seus filhos,
crianças que ela cultivou debaixo de sua parreira de uvas brancas e roxas,
num quintal encantado onde não havia espaço para tristezas ou dor.
À sombra daquela videira
nós brincamos,
brigamos,
cirandamos,
sorrimos,
choramos,
crescemos
e amadurecemos
como as uvas doces que chegavam em dezembro...
O tio, seu companheiro de toda uma vida,
Antônio de nascimento, Tonin, de carinho,
partiu muitos anos antes e deve tê-la aguardado no céu desde então...

Nós a levamos ontem, num passo lento, silencioso,
Num dolorido caminhar entre as árvores,
temerosos de que afinal a hora chegara...
Não mais haveria sua voz,
sua presença confortadora,
sua sabedoria,
seu café na cozinha simples,
a conversa nas tardes mornas,
as histórias de tempos já idos e longínqüos que só ela sabia.
Não mais haverá sua casa para nos receber,
o rosto emoldurado pela grande janela da cozinha,
seu macarrão de domingo,
seu sotaque italiano,
seu humor fino que desafiava a morte.

Não mais haverá.
Não mais Margarida.
Tia Ida...

Descansa agora entre as flores do céu, que ela merece,
trabalhou toda vida.
Tia Ida,
Tão triste a sua partida...
Tão órfãos nos sentimos sem a nossa Margarida...

4 de dez. de 2010

Escócia:Highlands com castelos(Parte 2)-Para sempre na memória

Saímos cedo de Inverness, a manhã gelada de Outubro convidava a ficar mais na cama, mas o coração ansiava por conhecer as Highlands, ver seus mistérios, sentir a história daquelas terras distantes. Pegamos o carro debaixo de uma garoa fininha e seguimos rumo a oeste animados com o dia que se abria a nossa frente. Pegamos a A 82 sentido sudoeste, pois nossa intenção era alcançar a ilha de Skye. No outono, as estradas escocesas são encantadoras, apesar da chuvinha insistente. Lagos cristalinos se sucedem, emoldurados de montanhas e extensos pinheirais. Mas a lendária criatura, o famoso Monstro de Loch Ness, infelizmente não deu as caras. Aliás, vale lembrar que por aqui, conforme publiquei no post anterior, a língua gaélica ainda tem muita força e "Loch" é exatamente isso que você deduziu, Lago. O Ness se estende no sentido norte-sul e vai margeando a A82. Apesar de muito profundo, é um pouco estreito. Pequenos vilarejos vão se sucedendo e observamos que o feno já estava enrolado nos campos, para alimentar o gado no inverno. Lagos, campos, montanhas, folhas douradas caindo ao vento... a Escócia se abria à nossa frente com a toda sua magia.


A primeira parada, of course, foi ao lado do Ness. Colocar a mão em sua água cristalina, caminhar nas suas margens, respirar o ar gelado da manhã...não há nada no mundo que pague esta experiência...seguimos em frente e paramos um pouco adiante para ver parte do Caledonian Channel, canal que interliga quatro lagos entre Inverness e Fort William. De lá seguimos viagem, sempre rumo a oeste,impressionados com os vários castelos à beira da estrada, muitos em ruínas, mas não podíamos deixar de visitar o Urquart Castle, às margens do Lago Ness, próximo à vila de Drumnadrochit. A vista é simplesmente espetacular, as ruínas do castelo datam do século sexto e você se sente como se estivesse em plena idade média, até o ar parece mudar...Tive a impressão de que um cavaleiro sairia a qualquer momento de entre as ruínas,elmo na cabeça, olhar perdido como quem vem de muito longe...
A velha Escócia é mesmo surpreendente...

( continua...)